domingo, 17 de janeiro de 2010

DESOCUPAÇÃO NA LAPA

Moradores deixam o prédio do Hotel Bragança
Numa das janelas de madeira desgastada, um pano com a imagem de São Judas Tadeu — o santo das causas impossíveis — aponta para a esperança de um milagre. Mas ele não aconteceu. A última semana foi de mudança para 68 famílias que viviam no prédio do antigo Hotel Bragança, na Rua Visconde de Maranguape, número 9, na Lapa (vídeo: conheça o Hotel Bragança e a vida dos moradores do prédio).

Construído em 1906, o prédio de quatro andares e 74 quartos abrigava moradores que saíram sem resistência na última sexta-feira, mas deixaram suas casas em estado de luto (veja mais imagens do hotel).

Uma da habitantes da torre do edifício, a amazonense Maria Clara Lopes da Silva, de 65 anos, dividia o espaço com mais cinco pessoas e alguns "filhos". A mulher de feições indígenas criava 25 cães, galo, galinha e até tartaruga ali:

— Não tive filhos. Os bichos são minhas crianças, minha vida — disse ela, que conhece o nome de todos os animais.

Há seis anos morando no prédio, o desenhista Haroldo Santana Cabral, de 57 anos, se preparava para reformar seu apartamento para viver com a namorada e as filhas, quando teve a notícia de que precisaria sair.

— Pelo menos não gastei esse dinheiro. Vou sentir saudade deste chuveiro — disse, apontando para o banheiro coletivo.

Imóvel leiloado

O imóvel do antigo Hotel Bragança pertence à Área de Preservação do Ambiente Cultural da Lapa. Interditado pela Defesa Civil desde 1996, ele será leiloado pela prefeitura já que a dívida de IPTU chega a cerca de R$ 2,5 milhões. Os moradores do prédio foram cadastrados pela Secretaria municipal de Habitação e receberão R$ 250 por mês, de aluguel social. Eles serão encaminhados para os imóveis construídos pelo programa Minha Casa Minha Vida.

— Queria sair com mais dignidade e menos promessa — disse Maria de Fátima Ramos, de 53 anos, desde 1991 no prédio.

Depoimento

— Adoro minha casa, tive muitas alegrias aqui. Já chorei muito por causa disso. É um lugar muito bom de morar. Acho os R$ 250 que eles vão dar pouco. Agora vou morar no Morro do Andaraí, mas vou tenho que continuar trabalhando como guardadora na Lapa. Não sei como vou fazer porque vou ter que transferir minhas filhas pequenas de colégio e elas vão ficar longe de mim — Vanessa Cordeiro , de 34 anos, guardadora de carros.
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Fonte:
EXTRA online"Casos de Cidade"
Enviado por Bruno Rohde e Wania Corredo - 16.1.2010

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